
Triste Constatação – a violência doméstica
A região da América Latina, como um todo, é a mais perigosa para mulheres fora de zonas de guerra, segundo a ONU Mulheres. E, a cada 3 vítimas de feminicídio no Brasil, 2 foram mortas em casa.

Aumento de Casos
Com as medidas de isolamento social para quem pode ficar em casa, governos em todo o mundo relataram o aumento nas denúncias de violência doméstica. Segundo a ONU Mulheres, é uma das preocupações durante a quarentena, já que as mulheres estão afastadas de suas redes de apoio, familiares e amigos, tendo que conviver o tempo todo com o possível agressor.
A convivência intensa, a tensão do momento e o próprio isolamento social, longe de parentes e amigos, contribui para que o número de casos de violência doméstica aumente ou piore. Mas os casos notificados ainda estão bem abaixo da realidade.
A maioria das mulheres não denuncia o seu agressor. Vivemos em uma sociedade muito machista e patriarcal que culpabiliza a mulher pela agressão, pelo fim de uma relação, especialmente se envolver filhos, o que desestimula a mulher a denunciar. O convívio intenso, nesse momento de muita ansiedade e tensão, tem piorado os casos. Uma pessoa que nunca bateu, por exemplo, pode ter descambado para a violência física.
Fatores que causam o aumento da violência:
O aumento do consumo de álcool (um perigoso combustível para os agressores), a ansiedade, a depressão e o estresse, todos presentes neste momento.
O start do ciclo de violência se dá exatamente com as tensões.
Esta primeira fase é identificada pela impaciência, o desrespeito, a irritabilidade e os acessos de raiva por parte do agressor.
Muito antes da pandemia, os dados já comprovavam a relação entre alcoolismo e agressividade. A intoxicação alcoólica pode levar à instabilidade de humor, à perda do senso crítico, e isso somado ao estresse de uma rotina alterada pelo confinamento obrigatório pode terminar em violência.
O álcool pode ser um gatilho para um homem agressivo, mas nunca pode ser apontado como a causa da violência.
O homem que bate na mulher põe a culpa na bebida, nas drogas, no desemprego, em uma potencial traição, mas nada disso pode servir como justificativa.
Dificuldades
Vamos lembrar que não é apenas a agressão física que caracteriza a violência doméstica, mas também a moral, psicológica, patrimonial e sexual.

A sociedade tende a estigmatizar e culpabilizar a mulher e desestimular que denunciem os agressores.
Uma das maiores dificuldades da vítima é de se perceber no contexto de violência e isso se dá pelo fato dela evoluir gradualmente. É muito comum também que a mulher minimize o comportamento do parceiro e se responsabilize, como se tivesse contribuído para a violência.
Ajudando a identificar
Tem sinais que podem te ajudar a identificar se você está vivendo um caso de abuso e violência doméstica.

Comportamento controlador por parte do parceiro, grosseria, frustração com expectativas irreais em relação à parceira, crueldade, não apenas em relação à mulher, mas também a outras pessoas e até crianças, e hipersensibilidade, onde tudo ofende o parceiro, são sinais de alerta.
Comportamentos e atitudes em que a mulher se sinta ofendida também são sinais de alerta. Frases que depreciam a pessoa e baixam a autoestima, como “ninguém vai te querer”, ou xingamentos também caracterizam violência psicológica e moral.
A dependência financeira, até mesmo impedindo que a mulher trabalhe ou controlando seus rendimentos, também é uma forma de domínio que o homem pode exercer em casos de abuso doméstico.
Fique alerta se o parceiro tentar te afastar de seu convívio social, muitas vezes com o pretexto de ciúme ou proteção, tirando-a de perto de seus familiares e amigos. Mesmo neste período de quarentena, todos devem continuar em contato através de telefone e redes sociais.
Fique atenta
Em geral, há um ciclo de violência dentro da relação, que começa, com a fase da tensão, em que há troca de insultos, xingamentos e muitos conflitos. Após isso, costuma acontecer a fase da agressão, inclusive física. Depois, há a fase da reaproximação, com reconciliação e promessa de melhora, antes de o ciclo reiniciar, cada vez com mais frequência.
Importante

Quero deixar bem claro que a agressão física, normalmente, é o último estágio de um relacionamento que já era abusivo de outras formas, é muito comum que a mulher já convivia com as agressões psicológicas, sexuais e patrimoniais, que também configuram como violência doméstica.
A demora em denunciar a violência sofrida, pelo temor da incompreensão dos amigos e familiares e da eventual falta de credibilidade perante a justiça e demais autoridades, além da dependência psicológica e econômica do parceiro, podem levá-la à morte.
Sem desculpa. Qualquer tipo de agressão física, mesmo empurrões, é violência doméstica.
Não é culpa sua. A culpabilização e a vergonha ainda são grandes impedimentos para que mulheres denunciem seus parceiros.
Nenhum ato de violência é justificável.
Ações que salvam vidas

Avise familiares e amigos de sua situação.
Deixe anotado o número de serviços de apoio à mulher.
Deixe itens essenciais, como chave, documentos e dinheiro, juntos, em um local específico.
Planeje a saída para algum lugar seguro.
Busque ajuda nos serviços de proteção à mulher, delegacias ou outros locais próximos que oferece acolhimento, seja uma igreja ou mesmo um comércio.
Se estiver ferida, busque um hospital e relate o que aconteceu.
A velha história de que “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher” deve ser deixada de lado. Amigos e familiares podem intervir e denunciar os casos. Se você conhece alguém passando por esta situação, ofereça ajuda.
Atendimento à Mulher segue disponível 24 horas por dia pelo Ligue 180 e pelo Disque 100. Os casos mais urgentes devem ser denunciados junto à Polícia Militar no número 190.
Em tempo: existe homens que também são agredidos por suas parceiras. No caso, a agressão costuma ser mais verbal, atingindo o emocional e o psicológico. As vezes eles já estão tão abalados e fragilizados que passam a sofrer agressões físicas e se calam, por se sentirem culpados.
Nenhuma forma de agressão, contra ninguém deve ser tolerada, busque apoio.
Andrea Naves Müller
Psicóloga 06-103094
Especialista em Relacionamentos
Instagram @andreanavespsi
E-mail